Interview by Despina Dimotsi – EDIÇÃO 1, VERÃO 2025

Quando criança, Elizabete Botsaris se lembra de seu pai lhe contando histórias de sua participação na guerra greco-italiana, bem como o legado do sobrenome Botsaris.

Elizabete, uma arquiteta de 46 anos (hoje com 50 anos) que mora em São Paulo, Brasil, amava as histórias de seu pai e se sente imensamente orgulhosa de sua história ancestral.

DD: Bem-vindo à nossa revista. Gostaríamos que você nos contasse quando começou a procurar suas raízes e qual foi a primeira informação que encontrou sobre seu sobrenome legendário.

EB: Eu agradeço imensamente esta oportunidade de expressar minha história pessoal.

Na minha infância a história da família Botsaris sempre foi presente. Meu tio e meu pai sempre falavam do grande orgulho que devemos ter de nosso sobrenome familiar e como foi importante a participação de nossos ancestrais na história da Grécia, principalmente durante a revolução grega.

Fui educada na escola da comunidade grega de São Paulo, Brasil, então todas as celebrações principais gregas fazem parte também de nosso calendário anual. Esta conexão do nome Botsaris sempre foi muito natural, entretanto eu precisei enfatizar a partir de 2014, quando iniciei o processo formalizado junto ao consulado grego de São Paulo, quando eu solicitei a cidadania grega. Depois de várias tentativas frustradas e com limitações das leis gregas, que ao longo dos anos foram atualizadas.

DD: Conte-nos sobre sua vida no Brasil. Você nasceu lá? Como é o cotidiano de um grego que mora lá?

EB: Eu nasci em 1974 em São Paulo, a cidade mais importante do Brasil. Eu e meu irmão Dimitri fomos criados somente pelo meu pai grego, que fazia o papel de pai e mãe para nós dois. Um dos motivos que nos levou a ter a maioria de nossas referencias gregas, como por exemplo o batismo ortodoxo, participar da comunidade grega aqui no Brasil e ter nossos relacionamentos dentro desta comunidade, além do contato com as tradições, comida e costumes gregos trazidos por todos os gregos da diáspora.

Lamento em afirmar que ser grego no Brasil não é muito fácil, temos muitas limitações. Nossa comunidade é pequena, somos poucos e com poucos locais de apoio para mantermos a cultura e o legado grego.Atualmente não temos uma escola para as crianças gregas e temos somente uma igreja ortodoxa que nos atende. Posso dizer que nos sentimos isolados, e o que nos conecta com nossa amada Grécia são os eventos da comunidade local e nossas viagens para a Grécia, o que é muito custoso.

DD: Como foi sua experiência com a burocracia grega quando você começou a solicitar a cidadania grega?

EB: A experiencia com a burocracia grega se tornou um grande fardo para meus ombros ao longo destes anos. A primeira vez que fiz contato com o consulado eu tinha 20 anos e não recebi atenção adequada pois as leis gregas eram muito limitantes. Depois de anos e muitas atualizações nas leis, retornei ao consulado e iniciei o processo formal, em 2014. Apoiada pelas leis vigentes da época e o apoio do consulado, organizei todos os documentos e paguei as taxas para o processo de cidadania grega. O que inicialmente para mim, compreendi somente como um processo documental. Infelizmente recebi o primeiro não do ministério grego de interiores, com uma resposta confusa, pois as leis gregas são muito claras quanto ao meu direito legal.

Em 2018, com o apoio do cônsul da época, iniciamos a processo de naturalização com todos os documentos e declaração correspondentes.

Durante os anos de 2018 até 2023, recebi muitas solicitações do Ministério grego, algumas pedindo fotos, declaração de membro ativo da comunidade grega de São Paulo, provas que estudei a lingua grega no Brasil, além de todas as certidões de nascimento traduzidas e com carimbos de cartórios. Foram muitas solicitações e gastos financeiros ao longo destes anos.

A resposta nunca era dada para meu processo, somente criavam mais demandas de documentos que não estavam previstos, criavam sempre uma situação nova o que estendia o meu processo.

Eu sempre acreditei que minha solicitação de cidadania é um direito meu como filha de grego e que seria algo simples pois eu tinha em mãos todos os documentos que comprovavam quem era meu pai.

Além do processo no consulado grego de São Paulo, eu também viajei várias vezes para a Grécia entre 2018 e 2023 para acompanhar meu processo com ajuda de um advogado grego, o que consumiu muito dos meus recursos financeiros.

A situação parecia não ter fim, tudo que eu pude eu fiz para ter meu direito respeitado. Eu realmente acredito que ninguém pode tirar o direito de identidade de um indivíduo, e honrando este direito e o nome que carrego nunca desisti de meus propósitos.

Passei por grandes humilhações, perdas de tempo , energia e finaceira para ter este reconhecimento.

DD: O que descreve o significado de “Grécia – Hellas” para você?

EB: A minha querida Grécia mora em meu coração e entendo que seu legado é maior que o próprio grego dos dias de hoje. Entendam, o sentimento de ser grego é algo enorme dentro de mim, é algo que nasceu comigo e estará comigo até o final de meus dias. Eu jamais teria a determinação que eu tive durante todos estes anos e diante de tantas limitações, se eu não tivesse este sangue grego em minhas veias e ainda a educação que tive do meu pai grego.

Nós somos parte da história grega, mesmo em lugares distantes. Ser grego não é um direito somente daqueles que nascem em território grego, ser grego é algo muito maior. É ter o sangue grego em seu coração, gritando sua identidade nata desde o primeiro momento de vida. Isto é algo que somente gregos de alma poderão entender.

DD: Você gostaria de morar na Grécia em um futuro próximo? Qual é sua cidade grega favorita?

EB: Viver na Grécia sempre foi um dos meus desejos. Durante minhas viagem à Grécia descobri lugares maravilhosos, cheios de história e beleza. Meu lugar favorito é Rhodes, pois tem uma singular combinação de tudo que observei na Grécia. Talvez a vida de marinheiro do meu pai também contribuiu para minhas preferencias atuais. Rhodes é um encanto de lugar, onde também fiz muitos amigos e fui acolhida por todos. No momento minha condição financeira não permite uma mudança , mas tenho o desejo de morar numa casa segura e simples na Grécia.

DD: Descreva-nos como você mantém nossa tradição viva com suas criações gastronômicas. Como os brasileiros reagem a isso, eles gostam da nossa culinária?

EB: Eu aprendi a fazer os doces gregos com uma gentil senhora doceira da comunidade grega aqui na cidade. Eu tinha 12 anos e passei as férias escolares cozinhando com ela. Depois disto eu fazia os doces para familiares e amigos, nos momentos de celebração grega ou ainda usava os doces como presente para brasileiros. Na pandemia, durante um período difícil financeiramente, iniciei uma produção artesanal de doces gregos, com a missão de promover a cultura grega através das minhas mãos. Até hoje produzo doces gregos para gregos e não gregos. Estes doces são feitos com muito carinho e sabor autêntico. Os brasileiros ficam sempre felizes em conhecer estes sabores e usam como presente para outras amigos e familiares, assim como eu fazia no passado. A produção não é grande, mas já é reconhecida como de alta qualidade entre os gregos que consomem aqui.

DD: Como você se sente depois de tantos anos de esforços, conseguiu em 2024 obter a cidadania?

EB: Eu me sinto em paz, sabendo que meu direito foi reconhecido e respeitado. Eu nunca imaginei que minha solicitação de cidadania teria este longo roteiro, que seria algo tão dolorido para adquirir. Eu espero que minha história seja um exemplo para milhares de gregos fora da Grécia. E torço para que as autoridades gregas sejam mais sensíveis ao analisar os casos de cidadania. Quando pedimos um reconhecimento, temos também questões familiares que devem ser respeitadas, não somos somente uma combinação de papeis numa mesa. Somos pessoas com uma identidade a ser valorizada. Gregos precisam reconhecer gregos! Eu acredito que isto é fundamental para a manutenção cultural ao longo dos anos. Quem serão os gregos no futuro? já pensaram nestas questões? Fica aqui meu questionamento.

DD: Quais são seus planos para o futuro?

EB: Meus planos agora é acalmar minha alma, foram anos de batalha e investimentos. Deus me guiará abençoando meu caminho como sempre fez. Aliás, minha história é mais um caso em que as coisas certas acontecem no tempo de Deus e não no tempo dos homens. Durante todo este processo também evolui como pessoa, superando a mulher que eu era e me tornando ainda maior em valores internos. Este é o propósito da vida, sermos pessoas melhores a cada dia. Eu gostaria de finalizar minhas palavras ressaltando que é dever nosso honrar nossa história e a história de nossa família e nossos antepassados.

Aqui menciono um trecho de um livro sobre Markos Botsaris:

Que o sacrifício do herói Markos Botsaris de Soulioti nos inspire, nos emocione e nos apoie nas dificuldades que todos enfrentamos de tempos em tempos durante nossas curtas vidas. Que sua bênção nos cubra quando o invocamos, nós que nos importamos e lutamos para que o homem tenha sua liberdade, tanto interna quanto externa. Que Deus permita que o mesmo aconteça com muitos outros heróis, santos, criadores e puros patriotas do nosso país, que sofreram ao longo dos séculos por sua independência e dignidade.

Από ermag

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